INFÂNCIA EXPOSTA: Erotização precoce e pública

Durante três minutos, um menino de cerca de dois anos dança só de fraldas em cima de uma mesa. Feliz, rebola e faz movimentos ritmados imitando o ato sexual. Ao som da banda baiana Kuduro, exibe uma coreografia altamente erotizada à qual provavelmente assistiu repetidas vezes, até aprender. Os que presenciam a cena, orgulhosos, registram cada movimento com seus telefones celulares e filmadoras (ver aqui).

Poderia ser apenas mais um vídeo caseiro de mau gosto postado no mundo-cão da internet. Mas a situação tem um agravante. Um blog – dedicado a divulgar fatos bizarros, é claro – hospedado no site de um dos mais respeitados jornais do país não só recomenda o vídeo como também disponibiliza o link para quem quiser assistir. E diz: "É a prova viva que brasileiro nasceu dançando...Vale a pena conferir!"

Danos duradouros:

Neste caso, de quem é a responsabilidade sobre a exposição indevida do menino? Da família que, no auge da euforia, não percebe os riscos da brincadeira? Se nem avalia uma possível queda, poderia estimar o potencial explosivo do vídeo nas mãos dos milhares dos pedófilos sempre de plantão na rede? Das autoras do blog? Podem ser culpadas por divulgar a dança inusitada? Do jornal que abriga o blog? Da sociedade que se diverte? Ou do Estado que se omite?

A questão da responsabilidade pelo conteúdo na internet é nebulosa, mas o Estatuto da Criança e o Adolescente é claro: "É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente".

A fama do menino termina em 15 minutos. Já a erotização precoce e pública deixa marcas profundas. [Fonte: Observatório da Imprensa]

Um comentário:

  1. Professor Schemes, já é notória e profunda a banalização do ser humano na sociedade "moderna", fruto de uma mídia selvagem, sedenta apenas de audiência e sua consequente conversão em gordas receitas. Qualquer coisa, seja o que for, será usada para atrair o olhar incauta da massa desavisada, que ri de qualquer coisa. A mídia é o resultado de um povo que não se importa como próprio destino. Os intelectuais ficam jogando pedras na mídia, mas, como nossos políticos, ela é o resultado do desejo e da prática que já está impregnada no seio da suja sociedade. E, nós, que nos dizemos formadores de opinião, eu mesmo, falamos pouco ou quase nada, e, às vezes, até damos subsídio para esse circo dos horrores, quando rimos dessa ou daquela piadinha de mal gosto, ou até quando ficamos em silêncio ou compramos determindo protudo porque ele é o que está "bombando". Esse garoto é o triste retrato de um mundo atolado até o pescoço em suas mazelas mais podres. As mídias, sejam elas quais forem, se amontoam sobre a carniça, como aves de rapina, quanto mais imunda e fedorenta for a notícia mais apelo tem para a audiência. E é ela, a audiência, que tem a culpa do que assistimos. Se ficassemos chocados toda vez que fosse exposto algo grotesco nada disse aconteceria. O problema é que assistimos passivos e até gostamos de ver o tiroteio no morro, a bunda que rebola ou a tragédia sangrenta filamda ao vivo no meio da movimentada avenida de uma metrópole. A gente gosta do que é ruim e não se importa. O ser humano é mal por natureza, e tem preguiça de buscar o bem. Pois dá um trabalho danado fazer aquilo que parece ser nobre, belo e positivo. Por causa disso, estão entrando em extinção os poucos que ainda querem ser diferentes nesse mundo cada vez mais bestilizado e corrampido pelo torpe desejo do dinheiro e poder. Qual será o nosso destino?

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