Sexualização na mídia afeta saúde mental de meninas, diz estudo

A representação de jovens mulheres como objetos sexuais na mídia, prejudica a saúde mental de adolescentes, dizem especialistas americanos.
A exposição em revistas, televisão, videogames, videoclipes, filmes, letras de música, revistas, videogames e internet tem um efeito danoso para o desenvolvimento de garotas adolescentes, diz um relatório da Associação Americana de Psicologia, divulgado nesta segunda-feira. A sexualização - que, segundo a associação, ocorre quando uma pessoa é vista como um objeto sexual e quando alguém é valorizado apenas por seu apelo ou comportamento sexual - pode levar à perda de auto-estima, depressão e anorexia. Segundo o relatório, há exemplos da sexualização de jovens em todos esses veículos. Os casos teriam aumentado com o surgimento de novas mídias, como a internet, e com a popularização do acesso à informação. Entre os exemplos usados pelo relatório está um comercial de tênis que mostra a cantora Christina Aguilera vestida com uniforme escolar com a camisa desabotoada, lambendo um pirulito.
Efeitos negativos “As conseqüências da sexualização de meninas na mídia hoje são muito reais e provavelmente terão uma influência negativa no desenvolvimento saudável das jovens”, disse Eileen L. Zurbriggen, presidente da força tarefa da Associação Americana de Psicologia que preparou o relatório e professora de psicologia da Universidade da Califórnia. “Nós temos amplas evidências para concluir que essa sexualização tem efeitos negativos em uma série de áreas, incluindo o funcionamento cognitivo e físico, a saúde mental e o desenvolvimento sexual saudável”, afirmou. As meninas podem acabar se sentindo desconfortáveis em seu próprio corpo, tendo problemas de auto-estima, distúrbios alimentares, depressão e uma auto-imagem sexual pouco saudável. “Como uma sociedade, nós precisamos substituir todas essas imagens ‘sexualizadas’ com outras que coloquem as meninas em cenários positivos, que mostrem como são competentes e especiais”, disse Zurbriggen. Segundo os psicólogos, os pais podem acabar contribuindo para o problema ou podem assumir uma posição protetora e educativa.
Responsabilidade A associação fez um apelo para que os pais, educadores e profissionais de saúde fiquem atentos para o potencial impacto da sexualização sobre adolescentes. “O objetivo é levar para todos os adolescentes, meninos e meninas, mensagens que levem a um desenvolvimento sexual saudável”, afirmou Zurbriggen. O relatório recomenda ainda que as escolas tenham programas de educação sexual que mostrem aos alunos o impacto da exposição de jovens como objetos sexuais. Para Andrew Hill, professor de psicologia médica da Universidade de Leeds, na Inglaterra, disse: "Se você olhar as revistas para meninas, é tudo sobre sexo. Nós somos uma sociedade visualmente absorvida, nossa visão das pessoas é dominada pela aparência delas". "Uma das chaves aqui é a responsabilidade social. Os anunciantes e outras mídias precisam estar cientes de que os produtos que produzem e as imagens associadas a eles têm um impacto, e esse impacto não é sempre bom." (Fonte: BBCBrasil)

Dia "offline"...

Internautas retomam controle de suas vidas e criam dia "offline":
Sharon Sarmiento sabia que era hora de se desconectar quando percebeu que até seus sonhos envolviam mensagens publicadas em blogs e o mensagens instantâneas imaginárias. Para Ariel Meadows Stallings, foram as horas perdidas em navegação pela Internet que a fizeram sentir como se tivesse passado por um coma alcoólico. Ambas as mulheres são parte de um novo movimento sob o qual os adeptos da tecnologia, viciados em Internet, usuários maníacos de Blackberrys e remetentes compulsivos de mensagens instantâneas decidiram retomar o controle de suas vidas ousando se desconectar --nem que por apenas um dia. "Acredito que exista alguma porção de nós, onde vive o bom senso, que nos faz parar e pensar que as coisas foram longe demais e que vivemos conectados em excesso", disse Sarmiento, uma mulher de cerca de 30 anos que é dona de uma empresa virtual e blogueira profissional, no Alabama. "É como se nossas cabeças fossem em milhões de direções diferentes a um só tempo. Assim, reservar um dia para ficar completamente desligada de qualquer força tecnológica permite que recuperemos nossa conexão com o mundo real", disse ela. Há quem chame a idéia de "Sabá secular". Para outros, é o "dia desconectado". Em Quebec, Canadá, Denis Bystrov e Ashutosh Rajekar, dois profissionais da computação, estão organizando um "dia mundial desconectado", em maio. Stallings, 33, escritora, blogueira e executiva de marketing em tempo parcial para a Microsoft, em Seattle, em janeiro adotou a resolução de passar "52 noites desconectada", este ano. "Amo a tecnologia. Não sou inimiga das máquinas. Mas compreendi que tinha um problema quando percebi que ocasionalmente eu me sentava ao computador para verificar emails e era como se acordasse apenas seis horas mais tarde, assistindo vídeos de animais no YouTube", disse. "Eu tentava recordar o que havia feito nas duas horas passadas, e nem fazia idéia. Associo essa experiência àquela sensação de que o tempo passou sem que saibamos o que estávamos fazendo, que nos afeta depois de uma forte bebedeira", disse. Depois de perceber o vício, Stallings mantém agora seu computador, celular e televisão desligados em todas as noites de quarta-feira. E numa ironia, ela rapidamente disseminou a idéia por meio do seu blog http://52nightsunplugged.ning.com/ e se conectou a milhares de pessoas ao redor do mundo que habitualmente mandam mensagens de texto enquanto dirigem, levam seus laptops para o banheiro ou checam email durante o jantar. "Eu achava que era um problema que afetava somente a mim e meus colegas geeks. Mas então comecei a saber que italianos têm os mesmos problemas, junto com poloneses e tchecos, e também já recebi comentários de pessoas na Colômbia", afirmou ela. "Então eu percebi que isso não é apenas um problema americano, mas internacional", acrescentou. Sarmiento, que escreve o blog eSoup http://www.esoupblog.com/ , disse que ela retomou a pintura e começou a se envolver em projetos de voluntários desde que começou seu "dia de descanso digital" há dois meses. "Eu já sonhei que estava blogando. Eu já naveguei pela Internet nos meus sonhos algumas vezes. E se eu começo a ouvir sons imaginários de mensagens chegando em meu computador quando estou no quintal de casa, isso me diz que passei muito tempo online", disse Sarmiento. Enquanto isso, Stallings começou aulas de dança com seu marido, a se encontrar com amigos e a escrever cartas, à mão, claro. Ela aguarda ansiosa o dia em que a tecnologia alcançar a necessidade de descanso digital. "Haverá celulares que poderão ser configurados para não receber email depois das cinco da tarde do sábado ou aos domingos", disse ela. (Fonte: Yahoo Notícias)

Influência da TV...

TV FAZ MAL
Segundo Manfred Spitzer, pesquisador da Alemanha em Neurobiologia, em entrevista ao Jornal Zero Hora de 08/12/2007 - Caderno Vida, “a TV engorda, emburrece e torna as crianças agressivas. Temos pesquisas mostrando que quanto mais TV as crianças assistem, pior será o desenvolvimento intelectual. Uma pesquisa realizada na Nova Zelândia provou isso. Depois de acompanhar o crescimento de 10 mil bebês nascidos na década de 70 até hoje, os pesquisadores mostraram que o grupo de crianças que assistiu menos de uma hora de TV por dia, teve 40% mais diplomas universitários que o grupo que assistia mais de três horas por dia. Ou seja, a TV é ruim para desenvolver a linguagem e a escrita e prejudica a atenção. Além disso, quanto mais horas alguém fica diante da TV, menos exercício ela fará. Não é saudável. Crianças de jardim que assistem muita TV estão gastando tempo de aprendizagem. Mais importante que isso é que estão aprendendo as coisas erradas. Elas estão aprendendo os estereótipos errados e vendo violência”.
TV E VIOLÊNCIA
A divulgação de cenas de violência pela televisão é cada mais freqüente nos canais abertos, em qualquer horário. As instabilidades sociais e os conflitos regionais, no plano mundial, fornecem a possibilidade de flagrantes atos hostis divulgados pelas emissoras de televisão em busca de maior audiência. Ainda é pouco avaliado o impacto da exposição à violência, veiculada pelos programas televisivos, sobre o comportamento de crianças na idade escolar, segundo afirmam pesquisadores norte-americanos da Universidade de Washington, que publicaram um estudo na revista Pediatrics. O objetivo da pesquisa foi avaliar a presença de comportamento anti-social, na idade de 7 a 10 anos, de crianças que entre os 2 e 5 anos de vida assistiam a esse tipo de programas pela televisão. Participaram da análise 330 crianças de ambos os sexos.Os resultados apresentados mostraram que a exposição à violência, veiculada pelos programas de televisão, relaciona-se diretamente ao aumento do risco de ocorrência de distúrbio de comportamento anti-social entre os meninos, fato não tão evidente para o sexo feminino. Por sua vez, os programas educativos e não violentos atuam como fator de proteção contra o surgimento de distúrbios comportamentais nas crianças.Cenas violentas transmitidas pela televisão e assistidas por crianças em fase pré-escolar prejudicam principalmente meninos, que podem desenvolver traços de comportamento anti-social. (Pediatrics 2007; 120 [5]: 993–999)

Ídolos Violentos...

ÍDOLOS VIOLENTOS - Por: Jorge Schemes*
O Times Mirror Center for People and the Press, fez uma pesquisa com 1.516 espectadores de TV dos Estados Unidos e revelou que os jovens americanos são a favor da violência na TV, dos entrevistados, 74% dos espectadores abaixo de 30 anos assistem a programas violentos. A violência na TV tem exercido o seu fascínio sobre os jovens.
Uma outra pesquisa feita pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) realizada em 23 países sobre os efeitos da violência da mídia no comportamento infantil, apontou os personagens violentos como modelo das crianças, ou seja: as chamadas “estrelas” de filmes de ação são considerados seus heróis.
O professor e psicólogo Jo Groebel, da Universidade de Ultrecht na Holanda, foi o responsável pela coordenação da pesquisa. Segundo ele, a despeito da cultura, religião ou acesso à tecnologia, 88% das crianças conhecem o exterminador do futuro - personagem do ator americano Arnold Schwarzenegger, o qual se transformou numa espécie de ícone global da violência.
Groebel entrevistou 5 mil crianças na fase da pré-adololescência ao redor do mundo. Das 5 mil crianças de 12 anos, entrevistadas em 23 países, entre eles o Brasil, 26% apontaram como seu maior modelo de comportamento os heróis de filmes de ação. A porcentagem aumenta entre os meninos: 30% têm tais personagens como modelo.
O estudo mostra que 51% das crianças que vivem em áreas violentas gostariam de ser como Schwarzenegger na pele do exterminador. Os heróis de filmes de ação ficam bem à frente, na preferência, que pop stars e músicos (18,5%), líderes religiosos (8%) ou políticos (3%), entre outros, como revelam as estatísticas abaixo:
Os Ídolos Infantis
(porcentagem dos entrevistados)
Heróis de filmes de ação - 26%
Pop stars e músicos - 18,5%
Líder religioso - 8%
Líder militar - 7%
Filósofo ou cientista - 6%
Jornalista - 5%
Político - 3%
Obs: os demais 26,5% apontaram pessoas de suas relações pessoais ou que desempenham outras funções na sociedade. (Fonte: Unesco)
A pesquisa ainda revelou que, nas áreas violentas, 7,5% das crianças admitem ter usado armas contra outras pessoas. “Fica claro que as crianças usam os heróis como modelos principalmente para lidar com situações difíceis e sobreviver a elas”, afirma o professor Jo Groebel, psicólogo responsável pela coordenação da pesquisa.
O relatório da Unesco conclui que o maior meio de acesso à violência na mídia é a televisão. Das crianças entrevistadas, 93% assistem a, pelo menos, um canal de TV. Em média, passam três horas por dia na frente de um televisor. Esse tempo de exposição aumenta no Brasil, onde elas passam quatro horas assistindo à TV. O Dr. Groebel chegou a conclusão de que a TV domina a vida das crianças em todo o mundo. Ele afirma ainda que elas dedicam 50% a mais de seu tempo à TV do que a qualquer outra atividade. Segundo o psicólogo, o impacto é ainda maior se for levado em conta que a maioria das emissoras apresenta programas de “entretenimento”, e não educativos.
“O estudo da Unesco não tem por objetivo responsabilizar a mídia pelo aumento da violência, que faz parte do sistema”, afirmou Groebel numa entrevista em O Estado de São. Paulo. “Mas a mídia propaga a idéia de que a violência compensa”. Groebel acredita que, com a popularização da internet e dos videogames, esse quadro pode piorar. “Na internet, as crianças têm acesso a todo tipo de pornografia”, diz. “E, nos games, tornam-se sujeitos da ação, em muitos casos ganhando pontos ao mutilar ou torturar o adversário”.
Groebel sugere, como solução, que as crianças tenham orientação para saber discernir melhor a ficção da realidade. É necessário a criação de um código de conduta. “Os pais têm papel fundamental no processo”, afirma o psicólogo. (O Estado de S. Paulo, quinta feira, 28 de maio de 1988, pág. A-19)
Falando de maneira objetiva, o que realmente acontece quando a criança vê cenas de violência ou sexo na TV? Essa pergunta foi feita para um grupo de psicólogos e pedagogos, num estudo realizado sobre a qualidade dos programas infantis. A resposta não tão conclusiva quanto o estudo da Unesco, mas deixa margens para dúvidas, no mínimo, preocupantes. Sobre o fato da criança assistir cenas de violência e sexo na TV, “não se chegou a um veredicto”, revela o estudo. “O que se sabe é que a criança funciona como um computador cuja memória está vazia. Ela armazena todo tipo de informação que recebe, e ninguém quer que um menino de 5 anos tenha na memória cenas de violência”. (Veja, Edição Especial. 13 de maio de 1998, p. 89)
Além do mais, as evidências apontam na direção contrária, revelando que as crianças e adolescentes não só reterão tal conteúdo na memória como serão atingidos de maneira negativa por esse conteúdo. Não se pode negar de que a violência apresentada na TV tem contribuído para o cumprimento da profecia feita pelo Senhor Jesus quando disse: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.” (Mateus 24:12)
Na opimião do Jornalista Nilson Lage, “o que acontece é que num quadro como o atual, de globalização, as pessoas perdem as referências. O que era um herói? Era o sujeito que se sacrificava por uma causa comum. Isso deixou de existir, mas a necessidade de heróis continua. Então começaram a eleger heróis como Ayrton Senna, que na realidade é uma marca comercial, em torno da qual se agrupam enormes interesses econômicos. Assim se fabricam heróis.” (Jornal A Notícia, Anexo – 28 de setembro de 1998, p. C-9)
Diante desse imenso bombardeio de falsos heróis, se faz necessário estabelecer diante das crianças, quem são, de fato, os verdedeiros heróis. Tanto a história secular como a história da igreja nos apresentam muitos, mas é na Palavra de Deus onde você encontrará modelos dignos de serem copiados. Porque os heróis do cristão não são forjados por trás dos bastidores. Não se acham a serviço de interesses escusos. Não se identificam com uma escala invertida e irreal de valores. Os heróis do cristão são autênticos, porque se identificam com aquele que é o mesmo ontem, hoje e eternemente. E todos aqueles que imitam o caráter do supremo modelo (Cristo Jesus), são dignos de imitação. Por isso Paulo afirmou: “sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”. (I Coríntios 11:1)
Currículo Lattes: Currículo Completo

Inocência Roubada

Inocência Roubada

A psicanálise define a palavra como uma perversão sexual, um distúrbio psíquico caracterizado pela obsessão por práticas sexuais não aceitas pela sociedade, como o sadomasoquismo entre outros. Loura, ela está de bruços, os braços pousados na cama, uma penugem rala atravessa-lhe o dorso reluzente, os pés parecem balançar naquela atitude displicentemente sexy que décadas de calendários de borracharia e revistas pornográficas entronizaram no imaginário masculino. O rosto imaculado e claro não transmite sentimento algum. Ela apenas sorri. Ela resplandece. Ela é linda.Seu nome é Natascha e ela tem apenas 9 anos. No mesmo site em que a nudez infantil de Natascha é revelada para o mundo virtual, o internauta pode contemplar Helena, 11 anos, despida numa praia do Báltico, e uma infinidade de fotos "desinibidas" de bebês ainda lactentes, pequenos seres naquela fase em que ainda choram para pedir a atenção carinhosa dos pais. A beleza de Natascha não tem nada de sexual. Não parece haver a menor sombra de erotismo em seu sorriso. É apenas a formosura natural de todas as crianças. O que leva alguém a fotografá-la e a comercializar sua inocência? Um faro para negócios ilícitos, sem dúvida. A pergunta precisa ser reformulada. O que leva uma pessoa a acessar um desses sites, a digitar as dezenas do seu cartão de crédito e a contemplar a nudez de meninas e meninos - desde frágeis bebês de colo a crianças que ainda não chegaram à puberdade? Aí, a resposta já fica mais complicada. Como explicar a pedofilia? Cada vez mais essa palavra aparece nas bocas escandalizadas da sociedade. Não é para menos. Nos últimos meses, a Igreja Católica teve que se haver com uma série explosiva de denúncias de abusos sexuais perpetrados no interior sagrado de suas paróquias. Padres estupravam pré-adolescentes. Abusavam dos jovens corpos e da confiança depositada em sua suposta autoridade moral e religiosa. O caso chegou até o Vaticano, que, pela primeira vez, está tendo que prestar contas à sociedade sobre o comportamento desviante de alguns de seus padres. Desde março, no Brasil, os pais que levam seus filhos ao médico têm que afastar um fantasma repleto de conotações sexuais: o caso de Eugenio Chipkevitch, um médico de São Paulo que sedava e mantinha relações íntimas com seus jovens pacientes, que, ainda por cima, eram os atores involuntários de filmes amadores registrados pela câmera do profissional. A história toda tem elementos suficientes para despertar a repulsa de qualquer um. Chipkevitch era uma figura coroada da hebiatria, especialidade que designa os médicos que tratam de adolescentes. Celebrado nos círculos científicos e na mídia, o médico era considerado uma autoridade no tratamento de jovens. Tudo isso ruiu desde que dezenas de fitas com cenas de abusos perpetrados em seu consultório foram encontradas. O escândalo de São Paulo foi suficientemente grande para alterar algumas relações entre médicos e pacientes. Desde que as notícias sobre o "médico pedófilo" começaram a aparecer, o hebiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo Maurício de Souza Lima resolveu chamar os pais de seus pacientes para uma conversa esclarecedora. Ressabiados, mães e pais apenas se tranqüilizavam depois de ouvir o médico explicar os procedimentos da hebiatria - e que nunca um profissional iria se trancar no consultório, sedar um jovem e abusar sexualmente dele. Não um adulto equilibrado, claro. Mas, e uma pessoa com problemas? Que tipo de pessoa se excita com crianças? Por que as crianças atraem sexualmente uma parcela considerável da humanidade? É o que esta matéria pretende responder. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a pedofilia como a ocorrência de práticas sexuais entre um indivíduo maior de 16 anos com uma criança na pré-puberdade (13 anos ou menos). "Pedofilia é um conceito de doença que abarca uma variedade de formas de abuso sexual de menores, desde homossexuais que procuram meninos na rua até parentes que mantêm relações sexuais com menores dentro de seus lares", afirma Jim Hopper, pesquisador do Trauma Center da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston, no Estado americano de Massachusetts. Embora a OMS não defina a pedofilia como uma doença, médicos e psicanalistas divergem na forma de classificação e nas estratégias para combater o problema. O conceito é elástico o bastante para explicar desde práticas sádicas com crianças até a contemplação de fotos sensuais de meninas de 15 anos. A psicanálise define a pedofilia como uma perversão sexual. Não se trata, propriamente, de uma doença, mas de uma parafilia: um distúrbio psíquico que se caracteriza pela obsessão por práticas sexuais não aceitas pela sociedade, como o sadomasoquismo e o exibicionismo. "A criança nunca é parceira na relação de um pedófilo, mas seu objeto, pois é um ser indefeso, dominado sadicamente", afirma o psicanalista carioca Joel Birman, que atende em seu consultório antigas vítimas das investidas de adultos. O psiquiatra francês, especializado em pedófilos, Patrick Dunaigre defende a existência de dois tipos de pedofilia: a de situação e a preferencial. A primeira talvez seja o tipo mais difícil de detectar. Alguns adultos, principalmente homens, atacam crianças sem, no entanto, se sentirem excitados com elas. Na maior parte dos casos são atos isolados e que, muitas vezes, não irão se repetir no futuro. Nem sempre o ataque envolve relações sexuais mais diretas, como penetração. A agressão pode ser uma carícia disfarçada de inocente cócega ou mesmo alguns beijos calorosos em partes mais íntimas do corpo infantil. O perigo reside mesmo na pedofilia preferencial. Ocorre quando o agressor deliberadamente escolhe bebês e crianças na pré-puberdade - antes dos 13 anos - como obscuros objetos para sua satisfação sexual. Essa pedofilia é cometida de várias formas. Na maior parte dos casos - e os episódios da Igreja e do hebiatra paulista o comprovam - é praticada por um adulto que adquire a confiança da vítima. De acordo com o psicólogo David L. Burton, especialista em agressão infantil da Universidade de Michigan e membro do Conselho Diretivo da Association for the Treatment of Sexual Abuses (Associação Para o Tratamento de Abusos Sexuais), nos Estados Unidos, cerca de 80% dos casos de abuso sexual de crianças ocorrem na intimidade do lar: pais, tios e padrastos são os principais agressores. O noticiário da TV alardeia o escândalo dos padres pedófilos e do hebiatra brasileiro, mas o grosso dos casos acontece mesmo dentro de casa. "Há um pacto de silêncio", denuncia o psicólogo Antônio Augusto Pinto Júnior, coordenador do Centro de Referência à Infância e à Adolescência de Guaratinguetá, município do interior paulista. Antônio Augusto, que atende crianças que sofreram abuso sexual dentro de casa, relata uma espiral de incestos digna das peças do dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, que escandalizou o público dos teatros com enredos em que pais iniciavam sexualmente as filhas e mães deitavam com o caçula. Um dos casos atendidos pelo psicólogo é o de uma menina de 13 anos, abusada pelo avô. Detalhe: suspeita-se que o avô, na verdade, seja pai da menina, pois anteriormente ele mantivera relações sexuais com a mãe dela - e filha dele. Episódios aterradores (e comuns) como este são pouco divulgados. "A mãe geralmente é cúmplice do abuso", afirma Antônio Augusto. Por medo da reação da sociedade, grande parte dos casos de pedofilia familiar não vêm à tona. Uma estatística levantada pelo Laboratório de Estudos da Criança (Lacri) da Universidade de São Paulo (USP), mostra a amplitude do problema. O relatório registrou, durante 2001, 1 723 casos de violência sexual contra menores no âmbito doméstico. Intitulado "A Ponta do Iceberg", o documento apenas inventaria aqueles episódios que chegaram às instâncias oficiais, como varas de família. "Os casos são muito mais numerosos do que nós sabemos", diz a coordenadora do Lacri, a professora de Psicologia da USP Maria Amélia Azevedo. Se na intimidade do lar ocorrem violências como essas, o que dizer quando o pedófilo ganha as ruas? Países como Brasil, República Checa, Sri Lanka e Filipinas faturam milhões com o turismo sexual todos os anos. É bastante comum ver, nas ensolaradas praias do Nordeste brasileiro, parrudos europeus desfilando com meninas e meninos ainda imaturos para qualquer tipo de relação mais íntima. Em Praga, capital da República Checa, uma vasta rede de bordéis masculinos e motéis serve de ponto de encontro para pedófilos do continente, em sua maioria alemães que atravessam à noite as fronteiras dos dois países para desfrutarem momentos de deleite com meninos de 12 anos. Um dos bordéis mais famosos é o Pinóquio. (A ironia cruel desse nome ligado ao universo infantil só poderia ser obra da cidade natal do escritor Franz Kafka.) Ali, durante 24 horas por dia, meninos matam o tempo entre um encontro e outro perdendo dinheiro nas máquinas de fliperama. Pagos para serem sodomizados, os pequenos prostitutos faturam em dois encontros o equivalente ao salário mensal de um trabalhador de 8 horas diárias, como apurou Fabiano Golgo, jornalista brasileiro radicado em Praga. Em países asiáticos, meninas de 8 anos têm sua virgindade leiloada em muquifos freqüentados por pedófilos das mais variadas procedências - a maioria, profissionais bem-sucedidos, casados e com filhos. No Sri Lanka, por exemplo, é possível comprar os serviços de meninos pré-adolescentes. Um usuário famoso da prostituição infantil nesse país foi o escritor Arthur C. Clarke, autor do clássico de ficção científica 2001: Uma Odisséia no Espaço, levado às telas pelo diretor Stanley Kubrick em 1968. Tais violências contra crianças fizeram a Unesco - o órgão da ONU que lida com a infância e a adolescência - realizar, a partir de 1999, uma série de encontros e investigações com psicólogos, médicos e advogados dos países onde o comércio sexual de menores é uma realidade. É uma batalha árdua. No Brasil, desde 2000 a Secretaria Nacional de Assistência Social, ligada ao Ministério da Previdência, mantém o Projeto Sentinela, inicialmente implantado no Norte e no Nordeste, onde a existência da prostituição infantil muitas vezes é pouco considerada pelas autoridades locais, que fazem vista grossa para o problema e preferem contar os cifrões do incremento do turismo sexual na receita da região. Mas, afinal, quem é o pedófilo? Observe aquele bom rapaz da vizinhança. Simpático, cordato, prestativo - principalmente com a meninada. Pelo que as comadres comentam, ele não tem uma namorada ou qualquer outro tipo de envolvimento amoroso. Adora ficar perto das crianças, participando (ou promovendo) das brincadeiras, conversando e escutando-as. Observe, também, aquele instrutor de escoteiros, o professor de educação física, o líder religioso do bairro, o profissional que lida diretamente com a saúde da molecada. Gente satisfeita em ouvir e aconselhar crianças, zelar por sua saúde física e mental. Gente legal, não? Na maior parte dos casos a resposta é positiva - são apenas pessoas que gostam de ajudar as crianças e cuja única satisfação é saber que as estão orientando para o futuro. Mas uma porcentagem dessas pessoas está ali, no playground ou no ginásio, por motivos bem mais escusos. Eis um pedófilo em ação. Um pedófilo é uma pessoa de 16 anos, ou mais, que se sente atraída sexualmente por crianças e pré-adolescentes. Apresenta, muitas vezes, uma sexualidade pouco desenvolvida e teme a resistência de um parceiro em iguais condições. Sexualmente inibido, o pedófilo escolhe como parceiro uma pessoa vulnerável. "Usar uma criança é ter uma ilusão de potência", diz o psicanalista Joel Birman. Em cerca de 25% dos casos, o pedófilo de hoje é a criança molestada de ontem. Mas todos que mantêm relações com crianças ou acessam sites na internet para contemplá-las nuas são pedófilos? A resposta varia. Em muitos casos, como o parente que abusa de uma criança dentro de casa, trata-se de mais um caso de violência contra a criança, sem que necessariamente o agressor seja pedófilo. Pode ser uma pessoa adulta que deseja humilhar uma mais fraca. Muitos adultos têm fantasias com crianças, mas nunca chegam a praticar qualquer ato de conotação sexual. Esses, segundo a psicanálise, sofrem de algum tipo de neurose, pois apenas criam situações imaginárias em que menores são o prato principal. Já o sujeito que se excita com imagens infantis em revistas ou na web pode ser só um voyeur: seu prazer reside apenas em contemplar a nudez, as formas de um corpo ainda em formação. Glenn Wilson, professor de Psicologia na Universidade de Londres, Inglaterra, realizou extensa pesquisa para definir o padrão de um pedófilo. De acordo com ele, a maioria dos pedófilos tem entre 30 e 45 anos e é do sexo masculino (95%). Desses, 71% gostam de meninos, embora não sejam, em sua maioria, homossexuais. Preferem os garotos de 12 a 15 anos. Uma pequena parcela deles costuma escolher crianças menores que 5 anos. Os dois aspectos de maior atração são a inocência e a boa aparência das crianças. A maior dessas qualidades físicas é a ausência de pêlos pubianos. É por isso que o "teto" dos pedófilos costuma ser a idade de 15 anos - quando os primeiros pêlos começam a aparecer, a voz engrossa (no caso dos meninos, claro), sinais de independência se manifestam na personalidade. As conseqüências nas crianças molestadas são as piores possíveis. O abuso sexual de menores provoca danos na estrutura e nas funções do cérebro, incluindo aquelas que desempenham papel importante na cognição, na memória e nas emoções. Depressão, propensão a abuso de álcool e drogas são algumas das seqüelas observadas pelos pesquisadores. A maioria percebe que, mais crescidas, as crianças costumam apresentar problemas ligados à sexualidade - de inibição e pavor ao sexo a até mesmo comportamentos que podem se transformar em pedofilia. O círculo vicioso, então, se completa - e deixa atrás de si um rastro de frustração, raiva e medo em muitas famílias. A batalha para evitar que um indivíduo incorra em novos ataques a crianças costuma ser difícil, lenta e apresenta êxitos duvidosos. Uma guerra que precisa ser travada palmo a palmo, de forma incessante. Embora a Associação Para o Tratamento de Abusos Sexuais, nos Estados Unidos, contabilize cerca de 70% de êxito na terapia, as medidas mais comuns - acompanhamento psicológico, antidepressivos e drogas que diminuem a libido - só surtem algum efeito se forem constantemente administradas. Mas droga alguma vai livrar a sociedade dessa estranha predileção que acomete muitas pessoas. Várias disciplinas procuram explicar o que leva adultos a encontrar satisfação sexual com menores. A história do erotismo infantil está ligada à trajetória da humanidade (veja quadro na página 42). Evidências culturais, biológicas e psicológicas nos ajudam a entender o problema. Por exemplo: em aproximadamente 450 culturas tradicionais, a idade ideal para contrair matrimônio está entre 12 e 15 anos. A beleza juvenil, ainda em desenvolvimento, seria o maior atrativo para os machos. A biologia explica que, quanto mais jovem uma mulher, maiores são as chances de ocorrer uma fecundação bem-sucedida. Com o passar dos anos, a produção de espermatozóides diminui e o homem procura mulheres que oferecem maior possibilidade de uma boa fecundação - e essas mulheres são as mais jovens. Outro fator nessa equação: a beleza imatura, a pele suave, as maçãs do rosto ainda rosadas e o nariz pequeno evocam a infância e despertam o instinto de proteção do adulto. Proteção e dominação constituem os pilares básicos da pedofilia. À medida que amadurecem, homens procuram pessoas mais jovens por causa de inseguranças psicológicas (inclusive em relação ao tamanho e ao desempenho do pênis). O sexo com menores seria uma forma - cada vez mais debatida pela sociedade - de um adulto afirmar sua segurança, ainda que precária. É tarefa difícil lidar com o mundo da pedofilia. O certo é que a inocência infantil deve ser preservada. Assim como um futuro livre de traumas. (Fonte: SuperArquivo - Revista SuperInteressante)

Para saber mais:

Na livraria:

Child Pornography: An Investigation, Tim Tate, Methuen, 1990

Inocência em Perigo: Abuso Sexual de Crianças, Pornografia Infantil e Pedofilia na Internet. Unesco, Garamond, 1999

Le Drame de la Pédophilie, Liliane Binard e Jean-Luc Clouard, Albin Michel, 1997

Na internet:

http://www.atsa.com/

http://www.unesco.org/

http://www.abrapia.org.br/

Frases:

A sociedade debate o escândalo dos padres pedófilos, mas cerca de 80% dos casos de abuso sexual de crianças ocorrem no lar: parentes são os principais agressores. Há o caso de uma menina de 13 anos, abusada pelo avô. Detalhe: suspeita-se que o avô, na verdade, seja pai da menina, pois anteriormente mantivera relações sexuais com a mãe dela - e filha dele Num dos bordéis mais famosos de Praga, na República Checa, meninos de 12 anos,disponíveis 24 horas por dia, faturam o equivalente ao salário mensal de um trabalhador. Os dois aspectos que mais atraem os pedófilos são a inocência e a boa aparência infantil. Sexualmente inibidos, escolhem como parceiros pessoas que consideram vulneráveis, sobre as quais podem exercer dominação e ter a sensação ilusória de poder. A maior parte dos pedófilos prefere garotos de 12 a 15 anos. Uma pequena parcela deles escolhe crianças menores que 5 anos.

Histórias de efebos e ninfetas:

O fascínio libidinoso de adultos por menores é tão velho quanto a humanidade. Pinturas que retratam homens mantendo relações sexuais com adolescentes existem desde a Grécia antiga. Foi entre os gregos que surgiu o termo "efebo", que designa o jovem do sexo masculino que era iniciado na vida sexual e social por um homem mais velho. O casamento heterossexual apenas tinha efeitos práticos - o amor era considerado território para os homens maduros e seus rapazes. Conta-se que Aixa, uma das mulheres de Maomé, era uma menina de 8 anos quando casou com o Profeta do Islamismo, que, nessa altura, tinha 53 anos. O rei Davi era um ancião quando dividiu a cama com Abisag, décadas mais nova que ele. Na antiga Índia, a casta dos nayar estimulava experiências sexuais de meninas antes da primeira menstruação. Em alguns mosteiros budistas no Tibete, até hoje sobrevive uma tradição de novatos dormirem com monges mais experientes. Os poetas provençais do século XII substituíram o modelo do efebo helênico, popular durante a antigüidade, pela figura da musa adolescente e quase andrógina. Durante a Idade Média e o Renascimento, o ideal de beleza feminina era praticamente infantil: longos cabelos louros, maçãs do rosto salientes, atitude displicente. Grande parte das mulheres casava durante a puberdade. Com o tempo, a adoração adulta pela infância foi ganhando mais espaço no imaginário ocidental. Tim Tate, autor de Child Pornography: An Investigation ("Pornografia Infantil: Uma Investigação", inédito no Brasil), acredita que se deve à invenção da fotografia, no século XIX, o incremento do gosto pela nudez das crianças. Eternizados em sua inocência, menores podiam ser contemplados a qualquer momento. Não por acaso um dos pedófilos mais famosos da história, o escritor inglês Lewis Carroll (1862-1898), autor de Alice no País das Maravilhas (1865), costumava fotografar menininhas em parques, inclusive uma garota de 4 anos chamada Alicia Lidell, que, mais tarde, inspirou a personagem do seu livro. Mesmerizado pela beleza provocativa de Alicia, o escritor a cortejava de forma quase acintosa - a ponto de a mãe da menina forçar o afastamento dos dois. Reeditando a figura clássica do efebo, o escritor alemão Thomas Mann (1875-1955) descreveu, na obra Morte em Veneza, os sentimentos conflitantes de um intelectual alemão diante da pureza arrebatadora de um jovem polonês. Apesar de nunca consumar sua paixão, o amor platônico lhe é uma tortura. Na década de 30, ainda adolescente, a escritora francesa Marguerite Duras (1914-1996) manteve um tórrido relacionamento com um abastado comerciante chinês de Saigon, no Vietnã (na época, Indochina). A experiência foi rememorada no romance O Amante (1984), em que revela a volúpia despertada nos homens mais velhos quando pisava, distraída, o chão das ruas. Mas foi somente em 1955 que o amor de um homem maduro por meninas (e o fulminante poder de atração dessas) ganhou expressão artística. O romance Lolita, do russo Vladimir Nabokov (1899-1977), escandalizou o mundo ao contar a história do padrasto europeu da adolescente americana Dolores Haze, cujo apelido (Lolita) logo serviu para designar aquelas meninas que hipnotizam homens bem mais velhos, tratando-os com estudada displicência. Nesse mesmo romance, Nabokov cunhou a palavra "ninfeta" para garotas cuja idade vai de 9 a 14 anos e que enfeitiçam os homens com sua natureza "nínfica" (demoníaca). O vocabulário sensual do século XX havia ganho, numa só tacada, duas palavras essenciais para explicar o nosso imaginário. Na vida real, o mundo dos espetáculos também arranja confusão em função do envolvimento de adultos com menores. Em 1977, o cineasta polonês Roman Polanski teve que picar a mula dos Estados Unidos depois de admitir ter feito sexo com uma garota de 13 anos. Na década de 90, o cantor Michael Jackson foi acusado de abusar de um menino de 12 anos. Duas vítimas na história do desejo proibido.

Imagens à venda: entre a lei e o cifrão:

"Somos todos um pouco pedófilos." A afirmação, chocante à primeira vista, é de um dos mais respeitados psicanalistas da atualidade, o belga Serge André. Segundo ele, nos últimos 25 anos a civilização ocidental vive uma idolatria da infância que só pode ser qualificada como delírio coletivo. "A adoração da criança, hoje, é um elemento do mercado", afirma.Não é preciso colocar a humanidade no divã para perceber essa verdade incontornável. Estamos cercados por imagens que nos tornam presas - muitas vezes inconscientes - do poder libidinoso da infância e da puberdade. Experimente ligar a TV, folhear uma revista, acessar a internet: lá estão Xuxa e seus baixinhos, Sandy, Britney Spears, desfiles de moda com a beleza evanescente de efebos e ninfetas de 13 anos. Fatos corriqueiros num mundo em que grande parcela da população, como diz Serge André, venera há 2 000 anos uma virgem. É impossível precisar quem foi o primeiro camelô do erotismo infantil, mas é certo que, desde a década de 60, a oferta de produtos sensuais envolvendo menores cresceu com assustadora rapidez. Até os anos 50, a maior fonte de estímulo visual para pedófilos eram publicações como Health and Efficiency ("Saúde e Eficiência"): um periódico naturista que apresentava fotos de famílias despidas em praias nudistas, com ênfase na meninada. No início dos anos 70, cerca de 300 000 crianças com menos de 16 anos participavam do comércio da pornografia (revistas e filmes hardcore) nos Estados Unidos. Em 1977, havia no mercado editorial americano mais de 250 publicações com nudez infantil, além de filmes com atuação de menores. Foi somente nas últimas duas décadas que as autoridades da maioria dos países criaram leis que resguardam os menores desse mercado. Nos Estados Unidos, a produção e a comercialização da pornografia infantil é proibida desde o final dos anos 70. Na Inglaterra, a posse desse tipo de material é crime desde 1988. O Estatuto da Criança e do Adolescente, vigente no Brasil desde 1990, estabelece, em seu artigo 241, a pena de detenção de um a quatro anos e multa para quem "fotografar ou publicar cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança e adolescente". Mas é difícil fazer valer a lei. "Exploração de menores é um delito que dificilmente deixa rastros", afirma Roberto Vômero Mônaco, coordenador da Subcomissão da Criança e do Adolescente da Organização dos Advogados do Brasil (OAB). Rastros não são o forte do maior veículo de propagação de erotismo infantil na atualidade: "A internet trouxe à tona tudo o que estava escondido pela sociedade", diz a socióloga Tatiana Savóia Landini, que defendeu dissertação de Mestrado na USP sobre pornografia infantil na rede. É difícil contabilizar os dividendos do comércio de imagens eróticas com crianças. Estima-se que o mercado da pedofilia, em ação nos Estados Unidos e no Leste europeu, fature 5 bilhões de dólares anuais. Digite as palavras-chave "teen nude" no Google, um dos programas de busca na web, e você obterá nada menos que 596 000 sites que vendem o erotismo infantil. A repressão a essa nova forma de divulgação é difícil e envolve policiais, juristas e peritos em informática. A Interpol realizou, em 1998, a Operação Catedral, quando 12 países prenderam 96 pessoas que difundiam cenas com crianças na rede. Transplantada em 1999 para o Brasil pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, a Operação Catedral-Rio conseguiu localizar, só na Cidade Maravilhosa, uma rede de 30 pessoas - estudantes, empresários e uma médica que atendia crianças - que trocavam imagens indecorosas. "Armazenar material pornográfico com crianças constitui delito", diz o criador da operação no Brasil, o promotor Romero Lyra. É claro que limites precisam ser impostos, sob pena de termos a infância aviltada pelo comércio do sexo. Mas, ao lado de impor a lei, deveríamos olhar para o que está passando na TV e o que sai nas revistas e perceber que provavelmente estamos há bastante tempo fomentando o erotismo infantil. Mesmo sem termos consciência disso. (Fonte: SuperArquivo)

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