Eles são dois dos grandes ícones de nossos tempos e conhecidos
modelos do estilo de vida ocidental. Um nos ajuda a organizar nossa
vida e utilizar nosso tempo; o outro, a nos manter informados e
entretidos sem sairmos de casa. Mas ambos também nos trazem várias
dores de cabeça, em forma de estresse, sedentarismo, sensação de
urgência e certo grau de alienação, quando os utilizamos em excesso ou
dependemos demais deles. Será que podemos ficar sem o tique-taque e o
controle remoto?
"Não só é possível, mas também pode ser muito
estimulante, já que quando deixamos de lado estes aparelhos, pelo menos
por um tempo, começamos a viver de acordo com outros ritmos marcados
mais pela natureza e pelo que surge de nosso mundo interior", diz a
terapeuta María del Carmen Ballesteros, professora de ioga e
especialista em tendências naturistas.
Não se trata de
eliminá-los de nossa vida, mas de tirarmos periodicamente umas breves
"férias da televisão e do relógio", para descansar e retornar renovados
e mais relaxados à rotina diária. "Apenas 24 horas de desligamento
bastam para descobrir que há vida além das séries e dos telejornais, e
do registro permanente das horas e dos minutos", assegura a
especialista.
Embora o tempo seja um dom que nos foi presenteado,
para desfrutar de experiências como um minuto de amor com seu
companheiro(a) ou um longo passeio por uma avenida ensolarada, nos
transformamos em autênticos "escravos do relógio". Colocamos as
experiências que vamos viver dentro de horários que determinam a
duração e em consequência a intensidade delas. Tiramos meia hora para
comer, oito horas para trabalhar, três minutos para preparar um café.
Olhamos constantemente os ponteiros ou os números digitais do relógio
que levamos no pulso.
"Se observarmos com quanta frequência
procuramos saber em que minuto nos encontramos e quantas vezes
consultamos a hora, descobriremos que o fazemos muitas mais vezes do
que pensamos", diz María del Carmen.
Recuperando nossa vida.
Para
escapar da escravidão do relógio, a especialista propõe avançar pouco a
pouco, começando por deixar o relógio, o celular ou qualquer indício de
horário durante alguns minutos a cada dia, ou inclusive por umas duas
horas nos feriados. Pouco a pouco iremos ampliando o "tempo sem
relógio" para uma tarde fora de casa, um encontro com amigos, ou um dia
completo. Trata-se também de ignorar os relógios de igrejas, estações e
outros "truques" ou tentações similares. É preciso tentar flutuar em
nossa vida cotidiana, com suas obrigações e compromissos, mas dentro de
um espaço não temporal, sem horários.
Que sensações vão sendo
despertadas dentro de nós? Podemos nos conectar com nossa própria
intuição? Tomamos consciência desse novo ritmo que vai sendo despertado
em nosso interior? Somos capazes de nos deixar levar pelos ritmos
interiores, por aquilo que nosso corpo pede? Aprendemos a escutar e
confiar na sabedoria interior? "É preciso permitir que nosso relógio
biológico marque as necessidades de cada momento e dedique a cada
situação e vivência sua justa medida, e seu justo tempo", diz a
especialista.
Além do relógio, também se pode prescindir da
televisão. A televisão é um espaço de informação, entretenimento e
companhia que muitas vezes se transforma em excesso de informação, uma
companhia duvidosa para a saúde. "A experiência televisiva é um
fenômeno recente, com menos de um século de existência. Nos tempos
anteriores, dos quais admiramos sua sabedoria e doutrinas, não havia um
fenômeno similar ao efeito sedativo mental da televisão. Existiam mais
espaços de silêncio e reflexão, que propiciavam um maior
desenvolvimento do conhecimento", segundo María del Carmen.
Para
estarmos conscientes tanto do influxo televisivo, como das
possibilidades que se abrem quando a desligamos, é preciso determinar o
tempo que desejamos deixar a televisão desligada e não ligá-la durante
esse lapso de tempo. Então nos observamos a nós mesmos, as sensações
que afloram em nosso interior. Solidão? É uma solidão real?
Insegurança, falta de comunicação, vazio. São reais e lógicas estas
sensações se tomamos como referente épocas ancestrais onde a televisão
estava ausente?
O passo seguinte consiste em ter alternativas
criativas para aproveitar os espaços de silêncio televisivo. Trata-se
de realizar uma série de atividades como ler, visitar amigos, passear,
praticar um hobby, escrever uma carta, falar com um parente. Qual das
duas sensações, a televisiva e a criativa ou social, se aproxima mais
de nossa natureza interior? Como nos sentimos após algumas horas nas
quais fomos criativos ou sociais? O que acontece após algumas horas
vendo televisão? A que ou quem escutamos quando assistimos televisão?
Seguimos aquilo que pensamos ou o que nos é passado através da
propaganda? As respostas a estas dúvidas serão muito reveladoras. (Fonte: Yahoo Tecnologia)